A Escola como Cultura: experiência, memória e arqueologia
Vale a pena recordar a dupla acusação que, frequentemente, dirigimos à escola. Umas vezes, dizemos que está sempre tudo a mudar – reformas e mais reformas, novas leis, novos programas, novas orientações. Outras, que nada muda, que a escola continua sempre na mesma, há vários séculos.
Agustín Escolano Benito explica bem esta aparente contradição. A escola faz parte de uma cultura, de uma sociedade, e, nesse sentido, vive numa pressão de mudança e renovação. Mas a escola é também uma instituição, com uma cultura própria, isto é, com uma determinada forma, gramática ou modelo, que tende a perpetuar-se.
A partir desta tensão, o autor apresenta-nos uma reflexão notável sobre a escola como cultura, um ensaio de grande liberdade e inteligência, uma das obras mais brilhantes escritas no campo da história da educação.
António Nóvoa
- 1a edição
- Junho/2017
- R$86,00
- Preço de capa
- 978-85-7516-790-8
- ISBN
- 282
- Páginas
- 16 x 23 cm
- Formato
- Português
- Idioma
na livraria virtual
Sumário
Prefácio
Diana Vidal
Traduzir Agustín Escolano: notas das tradutoras
Heloísa Helena Pimenta Rocha e Vera Lucia Gaspar da Silva
Introdução: a escola como cultura
Capítulo 1
Aprender pela Experiência
O retorno da experiência
Vida e fenomenologia das salas de aula
Confissões de um professor
A atividade na escola renovada
Cultura efetiva e história
Viagem às lembranças e à ficção
A ritualização da experiência
Culturas escolares em interação
Capítulo 2
A Práxis Escolar como Cultura
A práxis como cultura
As três culturas da escola
Professores “ignorantes”, mestres de ofício
Cultura popular e pedagogia vernácula
A “caixa-preta” da escola
Do tato à phrónesis
Experiência e hermenêutica
Etno-história da escola
Capítulo 3
A Escola como Memória
Memória da escola e identidade narrativa
A escola nas lembranças
Os conteúdos da memória
Padrões da cultura escolar
Relato e memória terapêutica
Hermeneutizar a memória
Capítulo 4
Arqueologia da Escola
O olhar arqueológico sobre a escola
Materialidades com memória
Primeira imersão: a infância recuperada
Segunda imersão: escola palimpsesto
Terceira imersão: o legado de outra cultura
Quarta imersão: vestígios no lixo
Arqueologia e memória: uma nova subjetividade
Coda: cultura da escola, educação patrimonial e cidadania
Orelha
Analisar a prática como cultura ou a cultura como prática: eis o desafio a que se lança Agustín Escolano nesta obra. Considerando a história da educação como uma indagação sistemática acerca das práticas com que se tece a vida cotidiana da escola, o autor constrói suas reflexões em torno da ideia central de que “o mundo da prática, ou da experiência, assume um papel essencial na construção do conhecimento sobre a escola e na fundamentação da cultura efetiva em que se materializam as ações e os discursos executados e interpretados pelas instituições educativas, os quais configuram o habitus profissional dos professores”. O retorno à experiência é tomado como fio condutor de suas análises, voltadas para a busca do sentido de uma “cultura da práxis”, o que se traduz em uma atenção aos objetos, às imagens, aos textos, aos sujeitos e suas vozes, enfim, a tudo o que compõe o patrimônio material e imaterial da escola. Com base nessa premissa, o autor procura interpretar as significações e os sentidos que atravessam as atitudes dos sujeitos e, ao mesmo tempo, as chaves semânticas e culturais que afetam a definição e a conformação do universo material das instituições educativas.
Como um caleidoscópio arguta e delicadamente construído, este livro convida a interrogar, de múltiplas formas, as práticas que consubstanciaram a cultura empírica ou efetiva da escola, edificada pelos agentes (ou sujeitos) da educação, em suas ações cotidianas, nem sempre coincidente com as postuladas no âmbito dos textos normativos ou das reflexões teóricas. De suas páginas, emerge a reivindicação da experiência como fonte essencial para o conhecimento do passado educacional ou, em outras palavras, como alicerce para a construção dos saberes acerca da escola e da formação dos profissionais da educação; reivindicação que não se confunde com uma renúncia ao poder explicativo do conhecimento teórico nem tampouco com a recusa das regras de governo das instituições. Entre as múltiplas imagens que se formam nos movimentos deste caleidoscópio com que nos brinda Agustín Escolano, afirma-se a racionalidade da atividade prática como fonte de cultura, perspectiva muitas vezes esquecida ou mesmo negada pelos modelos teóricos e pelos regramentos legais, que buscaram e buscam regular a vida das instituições educativas.
Heloísa Helena Pimenta Rocha
Vera Lucia Gaspar da Silva